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sábado, 23 de novembro de 2013

Entrevista do dia!

Formada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Olga Bom (24) já trabalhou com figurino para cinema, assessoria de imprensa e produção. Mas, o que Olga tem a ver com moda? A estudante hoje dedica-se a maior parte do seu dia no mestrado em Comunicação Social,  cuja a tese tem como tema Blogs de Moda. Olga é a prova de que os blogs já foram além das telas do computador e que deixou a muito tempo de ser futilidade, e sim motivo de estudo. Além de escrever a sua tese, a estudante também faz algumas peças de roupas e escreve como colaboradora em alguns blogs. Através de uma rede social, ela falou ao UNIVERSO SOBRE ELAS sobre os seus projetos de estudo que tem como tema os Blogs de Moda.


- Por que você escolheu “moda” como tema da sua tese de mestrado?

Eu também sou formada em Design de Moda e sempre gostei muito desse universo. Sempre gostei de ver desfiles, entender como as tendências se desenvolviam, a influência das ruas, como o contexto histórico e social influenciava na moda. E no meio da minha graduação na Universidade Federal Fluminense (UFF) assisti algumas aulas como ouvinte de uma disciplina chamada Mídia e Moda, na época ministrada pela professora Ana Enne. Nessa disciplina, tive meu olhar expandido e pude entender que há muita complexidade por trás do fenômeno social que é a moda. Já na minha monografia, desenvolvi um estudo a respeito das representações da moda na mídia televisiva, utilizando muito do que havia apreendido nessa disciplina. Com isso, me deparei com “N” questões que me incomodavam e me faziam pensar, o que me deixava com uma vontade enorme de estudar. E ai pude perceber que eu tinha mais atração por enxergar a moda como objeto de estudo do que de fazer parte diretamente do “universo da moda”, que na verdade, não tenho muita paciência.

- Explique a sua tese (como você fez a pesquisa? Quem você entrevistou? Entrevistou alguma blogueira? Quais foram as conclusões que você chegou?)

No momento, estou coletando dados e fazendo algumas análises. As entrevistas serão feitas mais para frente. Mas, para dar uma breve explicação, o que me fez chegar a esse estudo foi o fenômeno dos blogs de moda. Como eles cresceram e hoje fazem parte do dia a dia de milhões de participantes da internet, que recorrem a essas páginas para tirar dúvidas, “aprender sobre moda”, “ficar por dentro das tendências”. É impressionante a forma como eles passaram a ser legitimados e como as pessoas acreditam neles como verdade absoluta, mesmo que a dona do blog seja uma menina de 20 anos sem nenhum estudo formal sobre o assunto que escreve. O número de fãs, admiradores e seguidores também impressiona. Muitas blogueiras têm mais seguidores no Instagram do que atriz global. Elas foram transformadas em celebridades da moda e hoje, nenhuma semana de moda do mundo se faz sem convidar um número X de blogueiras para estarem na primeira fila, comentando, filmando e postando em tempo real tudo o que se passa. Fora que uma plataforma simplificada, como é o blog em sua origem, passou a ser uma ferramenta midiática cheia de complexidade e se tornou fonte de renda e arena de disputa de poder. Algumas blogueiras faturam R$70.000 por mês (ou muito mais em alguns casos), e alguns blogs já são empresas. Esse processo, intrigante e complicado de se compreender, é o que busco estudar e está sendo muito enriquecedor, pois como se trata de um fenômeno vivo, todo dia tem uma informação nova e muda tudo.

- Você lia sobre blogs de moda? Sobre blogs ou os blogs em si?

Sobre os blogs eu lia muito pouco, pois ainda há uma escassez de material direcionado a respeito, e espero que minha dissertação de mestrado ajude um pouco nesse aspecto. E os blogs em si são engraçados, pois como disse anteriormente, não gosto de participar diretamente desse “mundinho da moda”, gosto mais de escrever, de observar. E com os blogs é a mesma coisa. Eu os via mais como curiosidade do que como uma fonte legítima de informação. Não tinha a menor paciência para aquela linguagem “afetada”, sabe? Que parecia que a blogueira tinha tomado 60 latinhas de energético antes de escrever? E ficava intrigada com todo aquele universo, com aquela adoração e dependência. A blogueira aparecia com um coque mais básico impossível e com um rímel e batonzinho rosa, aí chovia comentários do tipo “pelo amor de deus, ensina pra gente como fazer esse coque e essa make fofíssima pro dia a dia”. Os comentários são excelentes. Até os comentários negativos, pois isso acontece em todo o processo da celebridade: o amor e o ódio. Claro que há aqueles blogs que eu visito com mais frequência por realmente gostar da linguagem utilizada e pegar umas dicas de auto maquiagem, afinal, sou mulher também (risos). E hoje em dia, eu acabo visitando muitos blogs pela pesquisa.

- Você acha que a sua opinião sobre blogs de moda mudou depois que você começou a estudar sobre o assunto?

Não. Eu nunca busquei os blogs de moda como uma fonte legítima. Sempre visitei com curiosidade, com um olhar mais distanciado. O que foi mudando foi a minha surpresa e questionamentos a respeito, na medida em que fui percebendo detalhes ao vasculhar esse objeto. Mas a opinião que tenho hoje pode ser diferente da opinião que vou ter quando finalizar o mestrado.

- O que você acha dos looks dos dias da maioria das blogueiras, que supostamente buscam inspirar, mas não buscam um preço acessível para as compradoras?

A sessão “look do dia” é cheia de polêmica, né? (risos) Esse é um dos pontos da minha pesquisa também. E é bem complexo. Nos primórdios dos blogs, as meninas faziam looks com o que tinham no armário ou com comprinhas mais básicas que elas compartilhavam no blog. Hoje em dia, essa sessão é completamente publicitária. Elas recebem a bolsa X, o sapato Y, a calça W, fazem umas combinações e postam. Uma blogueira de muito sucesso e muita audiência ganha uma fortuna para fazer propaganda. Ela não vai falar que determinado produto é maravilhoso sem cobrar por isso. É como uma celebridade que ganha para fazer publicidade. Hoje, os posts que são publicitários e não tem aviso podem receber processo. Cabe as leitoras analisarem e verem que aquilo ali não é a verdade. Fora que, mesmo que não se trate de um post publicitário, elas vão usar produtos dentro da realidade delas. É uma situação excludente mesmo. Parte-se do princípio de que as leitoras são de uma classe social parecida e que ali se fala uma língua comum. E se você for analisar os comentários, é de fato. Pelo menos a maioria. Em um post sobre maquiagem, por exemplo, onde se usa muitos produtos de fora, as leitoras comentam que estão gostando ou falam de outros produtos (tão caros quanto) que elas estão experimentando. Uma conhecida dona de uma multimarcas comentou comigo uma vez que a influência que elas têm no processo de consumo é assustador. Se a Lala (Lala Rudge) aparecia com um sapato azul em um dia, no outro chovia perguntas se ela tinha o “sapato azul da Lala”. Além dessa influência no consumo de moda, tem outra questão, algumas blogueiras só utilizam marcas internacionais de luxo e, mesmo assim, recebem milhares de visitas e centenas de comentários. Os blogs chegaram a um patamar tão específico que essas meninas deixam de ser “gente como a gente” e passam a ser celebridades. Quando uma blogueira posta seu “look do jantar” e aparece de Stella McCartney, Gucci e Prada em uma só foto, os comentários deixam de ser “nossa que lindo vou comprar amanhã” e passam a ser “maravilhosa”, “diva”, “te amo”. E o propósito do blog começa a ser modificado, onde as visitas são motivadas por outros fatores, como a admiração e o acompanhamento da vida particular. Há uma hierarquização dos objetos, estudada por Jean Baudrillard, onde as utilizações de alguns objetos apontam para uma distinção social, e é o que eu vejo acontecendo com algumas blogueiras. Elas passaram a atingir um patamar social dentro do imaginário de suas leitoras e são vistas como alguém que não é comum. São adoradas, recebem elogios o dia inteiro, são paparicadas pelas leitoras, recebem presentes. A utilização de produtos diferenciados é um processo comum, que acompanha a humanidade e isso já pode ser notado nesse universo das blogueiras de moda.

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